domingo, 15 de fevereiro de 2009

Pescoço

"Diz aí Ricbit, o que você foi fazer na Índia"? Ah, eu fui dar aula. Tem um tópico que eu entendo e que os indianos até então não conheciam (agora eles conhecem).

Em geral, as pessoas dizem que eu sou um bom palestrante. Não é que eu tenha talento pra isso não, o que eu tenho é prática. Já são mais de 15 anos mestrando RPG; o sujeito acaba pegando a manha de se comunicar em público quando tem que ficar mestrando 4h seguidas todo fim de semana. Mas uma coisa que eu nunca tinha percebido é como sou dependente de comunicação não-verbal!

Eu não sabia, mas todo meu timing pra dar uma palestra é baseado na leitura da platéia. Se tem alguém acenando com a cabeça, eu verifico se ele está concordando ou discordando; se for negativo eu repito o ponto, ou dou um exemplo extra. Se ele tem cara de desinteressado, eu intercalo a apresentação com uma piada, e assim por diante. Isso tudo eu fazia de maneira inconsciente, só me dei conta das técnicas porque elas não funcionaram na Índia!

O problema é que a comunicação não-verbal deles é diferente. Nós, ocidentais, meneamos a cabeça de dois jeitos diferentes: o sinal para "não" é girando a cabeça no eixo do pescoço (o que em aviação é Yaw), e o sinal para "sim" é levando o queixo para o peito (Pitch). Os indianos têm um terceiro movimento, que é rotacionar a cabeça levando a orelha pro ombro (Roll). Dependendo de quão empolgado o indiano está, ele combina o Roll com as outras rotações, e o resultado é que parece que ele tem uma mola no pescoço, como se fosse aqueles cachorrinhos que você coloca no painel do carro.

Agora imagine o Ricbit dando uma palestra uma sala lotada de indianos, e todos eles mexendo a cabeça como se tivessem molas no pescoço. Eu não sabia se estavam entendendo, gostando, discordando, nhargh, eu estava completamente perdido!

Deu uma hora que eu desisti, interrompi a apresentação e perguntei pra eles: mas afinal, o que é esse raio de movimento? Claro que todos riram do ocidental bobo que não entende coisas básicas, mas no fim das contas era aquilo que a semiótica do Jakobson chama de função enfática da linguagem: o movimento serve pra testar o canal de comunicação; ou em outras palavras, "continua que eu tô ouvindo".

É impressionante como ficou muito mais fácil falar com eles depois que eu entendi o significado do gesto. Dica: se você estiver falando com um indiano e ele balançar a cabeça como uma mola, pode continuar falando, só significa que ele está prestando atenção.

6 comentários:

  1. Tem um país onde o menear a cabeça fazendo "sim" é "não" e o nosso "não" é "sim"... qual era mesmo?

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  2. Bem interessante. Taí mais um conhecimento pro meu acervo de cultura (in)útil. =)

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  3. Eu preciso ver um vídeo disso. Na próxima, deixe uma câmera escondida gravando :)

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  4. Quando você citou pitch, roll and yaw eu já pensei em algumas manobras que os indianos poderiam promover. Tsc, cabeça de flightsimmer... =\

    (barrel roll na India deve ser o equivalente a wow! no ocidente, methinks)

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  5. ila fox disse...
    Tem um país onde o menear a cabeça fazendo "sim" é "não" e o nosso "não" é "sim"... qual era mesmo?
    15 de fevereiro de 2009 15:38

    Bulgaria

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  6. Nossaaa que alivio que eu achei isso, estou trablhando com um indiano a pouco tempo, e quando eu converso com ele ele fica balançando a cebeça... não sei se é bom se é ruim, se eu calo a boca ou continuo.... kkkkkk Varias vezes fiquei pensando WF.. o que ele quer dizer.....
    Bom fico mais aliviada agora!!!! hahahaha

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