sexta-feira, 5 de novembro de 2010

E o Macaco?

Um fato curioso sobre a Índia é que trata-se de um país seguro. Eu nunca tive medo de ser assaltado na Índia. Isso tem um motivo muito bom, é que os trambiqueiros de lá não precisam assaltar ninguém, é mais fácil explorar os turistas desavisados!

Por exemplo, quando eu estava indo de Delhi para Agra, o táxi ficou preso num engarrafamento enorme. Ficamos uns 20 minutos parados na estrada. Enquanto estávamos imóveis, eu vi passando pela janela um cara levando um macaco na coleira, achei curioso e resolvi tirar uma foto. O dono do macaco me viu com a câmera, e fez até pose:


Porém, depois da foto, o cara veio na janela falar comigo:

Dono do macaco: "Tirou foto do macaco, 100 rupees."
Eu: "Mas como assim? Eu só tirei uma foto, nem abri a janela do táxi nem nada."

Dono do macaco: "Tirou foto, tem que pagar."
Eu: "Eu não vou pagar nada, se eu soubesse que era pago nem tinha tirado a foto."

Dono do macaco: "Se não pagar, eu não tiro o macaco de cima."

... e então jogou o macaco em cima do táxi! O bicho ficou lá grudado no teto e fazendo barulho, e eu senti que tinha caído em mais uma roubada. Eu falei com o taxista se ele podia fazer alguma coisa, e ele disse "nah, quando a gente acelerar o macaco cai". Eu respondi que isso podia matar o macaco, e ele respondeu "nah, tem bastante macaco aqui na India".

Aí eu desisti né? Abri a janela e paguei os rupees pro cara lá. Se eu soubesse que teria que pagar, pelo menos teria tirado uma foto melhor :P

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Troco

Uma das coisas em que a Índia é bem diferente do Brasil é na questão do troco. No Brasil, qualquer preço tende a ser arredondado pro múltiplo mais próximo de dez centavos, isso quando não pra cinquenta ou mesmo um real.

Já na Índia, eu sempre recebi troco exato, mesmo quando o troco era apenas um rupee. E isso mesmo sendo um rupee uma quantia pequena, ele vale mais ou menos 3 centavos de real. Nesse ponto, Índia é melhor que o Brasil.

Por outro lado, o Brasil tem só uma língua oficial, e na Índia é comum cada cidade ter duas ou três línguas oficiais. Por isso, quando você vai cunhar uma moeda brasileira, pode colocar sem medo a inscrição "um centavo". Na Índia isso não rola, então você precisa de indicadores mais universais. Eu gostei da solução adotada por eles:



Na dúvida, não tem coisa melhor que comunicação por gestos :)

domingo, 15 de março de 2009

Outsourcing

Uma das coisas que está fortemente associada à Índia é o Outsourcing: você contrata os indianos pra fazer o seu serviço de tecnologia, por um preço muito mais barato que no seu país de origem. O fato é que tem muito engenheiro bom na Índia mesmo, basta lembrar que o Ramanujan veio de lá, e ele certamente foi um dos cinco maiores matemáticos do século passado.

Eu não sei qual o motivo de ter tanta gente que manja por lá, mas tenho minhas desconfianças. Um dos fatores é que por lá eles se familiarizam com computadores muito cedo, as escolas primárias têm computação na grade curricular. Outro motivo é que eles estão acostumados a falar várias línguas. Eu notei que o Shishir aprendeu mais português em duas semanas no Brasil, do que eu aprendi kannada em duas semanas em Bangalore. Pra quem aprende língua fácil, linguagens de computador não devem ser um problema.

Talvez o motivo principal seja somente uma questão de escala. Na Índia tem muita, muita gente: a população já passou de um bilhão de viventes. Estatisticamente, a chance de nascer um gênio aleatoriamente é pequena, mas uma chance pequena vezes um bilhão já é um número considerável.

Ainda assim, outsourcing é algo que você deve fazer com cuidado. Se você não escolher as pessoas certas para o seu projeto, você pode acabar contratando um escritório de engenharia como esse que eu vi lá em Delhi (clique para ampliar):

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Não confie em guias


Todo mundo sabe que na Índia você não pode confiar em guias, principalmente se você estiver sozinho. Mas muitas vezes o guia é sua única alternativa, especialmente quando se trata de fotos. Como na grande maioria dos lugares você não pode levar tripé, se você quiser sair em alguma foto, vai ter que pedir pro guia tirar a foto pra você.

O problema é que os guias são muito, muito ruins de fotografia! Como exemplo, eu peguei duas fotos do Taj Mahal. Na primeira, o guia não entendeu muito bem a idéia de tópico da foto. Numa foto com o Taj, tipo, seria legal conseguir um ângulo onde o Taj aparecesse:


Mas tudo bem, lição aprendida, da próxima vez eu escolho o ângulo e aviso pro guia certinho: olha, é assim, nessa orientação, eu fico aqui no canto, enquadra desse jeito. E ele dá um jeito de errar, além de não centralizar a foto, ainda esquece de acionar o flash:



Estou certo que você vai perguntar: ah, mas a câmera é digital, por que você não tira outra foto quando perceber que a primeira saiu ruim? O problema é que lugares como o Taj são muito, muito concorridos, e pra conseguir um espacinho nos pontos bons pra tirar foto, você precisa enfrentar hordas de outros turistas, chegando até a ter filas. 

No máximo, você consegue uma janela de 30 segundos no point, tempo que você tem que aproveitar pra configurar a câmera, posar e tirar a foto. E se errar, vai ter um monte de gente atrás de você, não dá pra ter segunda chance, você precisa voltar lá pro final da fila.

Qual a solução então? Se você estiver sozinho, o melhor é ignorar o guia, e pedir pra outro turista tirar sua foto! Na hora de fazer a prospecção, procure os turistas que têm a maior câmera possível pendurada no pescoço: usualmente, se o cara gasta bastante grana com equipamento, é porque sabe o mínimo de fotografia.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Mais do pescoço

Povo ficou curioso pra ver como é essa rotação dos indianos, então procurei no youtube um exemplo e achei esse aqui. É bem isso do vídeo mesmo, imagine dar uma palestra e a platéia se mexendo assim:



Se você quiser aprender a fazer, então o melhor exemplo é acompanhar os pugs! Faça como eles, mas bem rápido:




Pescoço

"Diz aí Ricbit, o que você foi fazer na Índia"? Ah, eu fui dar aula. Tem um tópico que eu entendo e que os indianos até então não conheciam (agora eles conhecem).

Em geral, as pessoas dizem que eu sou um bom palestrante. Não é que eu tenha talento pra isso não, o que eu tenho é prática. Já são mais de 15 anos mestrando RPG; o sujeito acaba pegando a manha de se comunicar em público quando tem que ficar mestrando 4h seguidas todo fim de semana. Mas uma coisa que eu nunca tinha percebido é como sou dependente de comunicação não-verbal!

Eu não sabia, mas todo meu timing pra dar uma palestra é baseado na leitura da platéia. Se tem alguém acenando com a cabeça, eu verifico se ele está concordando ou discordando; se for negativo eu repito o ponto, ou dou um exemplo extra. Se ele tem cara de desinteressado, eu intercalo a apresentação com uma piada, e assim por diante. Isso tudo eu fazia de maneira inconsciente, só me dei conta das técnicas porque elas não funcionaram na Índia!

O problema é que a comunicação não-verbal deles é diferente. Nós, ocidentais, meneamos a cabeça de dois jeitos diferentes: o sinal para "não" é girando a cabeça no eixo do pescoço (o que em aviação é Yaw), e o sinal para "sim" é levando o queixo para o peito (Pitch). Os indianos têm um terceiro movimento, que é rotacionar a cabeça levando a orelha pro ombro (Roll). Dependendo de quão empolgado o indiano está, ele combina o Roll com as outras rotações, e o resultado é que parece que ele tem uma mola no pescoço, como se fosse aqueles cachorrinhos que você coloca no painel do carro.

Agora imagine o Ricbit dando uma palestra uma sala lotada de indianos, e todos eles mexendo a cabeça como se tivessem molas no pescoço. Eu não sabia se estavam entendendo, gostando, discordando, nhargh, eu estava completamente perdido!

Deu uma hora que eu desisti, interrompi a apresentação e perguntei pra eles: mas afinal, o que é esse raio de movimento? Claro que todos riram do ocidental bobo que não entende coisas básicas, mas no fim das contas era aquilo que a semiótica do Jakobson chama de função enfática da linguagem: o movimento serve pra testar o canal de comunicação; ou em outras palavras, "continua que eu tô ouvindo".

É impressionante como ficou muito mais fácil falar com eles depois que eu entendi o significado do gesto. Dica: se você estiver falando com um indiano e ele balançar a cabeça como uma mola, pode continuar falando, só significa que ele está prestando atenção.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Mundo Animal


Eu sempre procuro pedir dicas dos locais pros amigos antes de viajar para algum canto, e três pessoas me falaram de amigos que passaram um tempo na Índia e voltaram vegetarianos. Eu, que sou churrascariano, fiquei morrendo de medo: vai que tem algo na água da Índia que converte as pessoas! Mas como eu só tomava água mineral por lá, felizmente não fui afetado, e na verdade voltei mais convicto que nunca de como é bom um churrasquinho.

Por lá não tem nadinha de churrasco, tudo culpa das vacas, é claro. No sistema de castas da Índia, você começa nos dalits, que não tem casta, e vai subindo até os brâmanes, que são o topo. Acima deles tem a casta das vacas. Sim, o bom hindu, temente a Shiva, sonha em morrer e reencarnar numa vaca.

Eu tinha curiosidade de saber como era na vida real essa coisa das vacas sagradas. Pois bem, você nunca, nunca, vai ver algum lugar vendendo carne de vaca. Nem nas lanchonetes ocidentais, como o Subway ou o McDonalds. Por outro lado, leite de vaca é comum, e queijo também (no interior é comum ver vacas amarradas ou acorrentadas só pra tirar leite). Pelas ruas da cidade grande é relativamente comum ver vacas andando e tomando sol; e sim, os carros param caso a vaca esteja no caminho (mas eles buzinam pra fazer a vaca sair de lá). 

Eu não vi nenhuma vaca de carga, pra isso eles usam mulas ou camelos. Aliás, dos animais urbanos de grande porte, os comuns por lá são a vaca, o camelo e o elefante (lembrei do refrão da música dos mamonas agora). Dos pequenos, é comum ver cachorros na rua, mas eu não vi nenhum gato.

De qualquer modo, os animais selvagens são mais legais :)

Os macacos andam soltos pelos templos, pois são sagrados também (são a representação do deus Hanuman). Eles são bem maiores que os micos que a gente vê no Brasil, esse aqui devia ter a minha altura se andasse ereto.


Incrivelmente, no norte da Índia os periquitos são bem comuns!


Outro bicho comum em templos é o kudu. No cantinho também tem uma garça, mas ela é menor que a espécie comum no Brasil.

Atrás das folhas tem um corvo indiano. Ele parece com o corvo normal, mas tem o pescoço branco.


Esse aqui é um pavão selvagem, não deu pra tirar foto de perto porque eu tirei de dentro do táxi enquanto voltava de Agra.

Os esquilos da Índia são menores que os da Califórnia, e listradinhos.

Lá no alto voa a águia indiana, que é bem grandona, mas que eu não consegui ver de perto, porque raramente pousa (pelo menos perto de turistas).

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Frogger, fase 2

Pra quem achou o vídeo anterior light, eis a Old Madras Road à noite. Toda a emoção do video anterior, sem iluminação nenhuma na rua e mais trânsito. Pra piorar, como eu gosto de me vestir de preto, eu era praticamente invisível pra eles. Na próxima vez vou levar uma lanterna e uma buzina pra atravessar a rua!

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Frogger

Hoje eu filmei um minuto da Old Madras Road, a tal rua que eu preciso atravessar todo dia. Note que não tem faixa, nem pros carros e nem pros pedestres, e também não tem farol.