
Em geral, as pessoas dizem que eu sou um bom palestrante. Não é que eu tenha talento pra isso não, o que eu tenho é prática. Já são mais de 15 anos mestrando RPG; o sujeito acaba pegando a manha de se comunicar em público quando tem que ficar mestrando 4h seguidas todo fim de semana. Mas uma coisa que eu nunca tinha percebido é como sou dependente de comunicação não-verbal!
Eu não sabia, mas todo meu timing pra dar uma palestra é baseado na leitura da platéia. Se tem alguém acenando com a cabeça, eu verifico se ele está concordando ou discordando; se for negativo eu repito o ponto, ou dou um exemplo extra. Se ele tem cara de desinteressado, eu intercalo a apresentação com uma piada, e assim por diante. Isso tudo eu fazia de maneira inconsciente, só me dei conta das técnicas porque elas não funcionaram na Índia!
O problema é que a comunicação não-verbal deles é diferente. Nós, ocidentais, meneamos a cabeça de dois jeitos diferentes: o sinal para "não" é girando a cabeça no eixo do pescoço (o que em aviação é Yaw), e o sinal para "sim" é levando o queixo para o peito (Pitch). Os indianos têm um terceiro movimento, que é rotacionar a cabeça levando a orelha pro ombro (Roll). Dependendo de quão empolgado o indiano está, ele combina o Roll com as outras rotações, e o resultado é que parece que ele tem uma mola no pescoço, como se fosse aqueles cachorrinhos que você coloca no painel do carro.
Agora imagine o Ricbit dando uma palestra uma sala lotada de indianos, e todos eles mexendo a cabeça como se tivessem molas no pescoço. Eu não sabia se estavam entendendo, gostando, discordando, nhargh, eu estava completamente perdido!
Deu uma hora que eu desisti, interrompi a apresentação e perguntei pra eles: mas afinal, o que é esse raio de movimento? Claro que todos riram do ocidental bobo que não entende coisas básicas, mas no fim das contas era aquilo que a semiótica do Jakobson chama de função enfática da linguagem: o movimento serve pra testar o canal de comunicação; ou em outras palavras, "continua que eu tô ouvindo".
É impressionante como ficou muito mais fácil falar com eles depois que eu entendi o significado do gesto. Dica: se você estiver falando com um indiano e ele balançar a cabeça como uma mola, pode continuar falando, só significa que ele está prestando atenção.
Tem um país onde o menear a cabeça fazendo "sim" é "não" e o nosso "não" é "sim"... qual era mesmo?
ResponderExcluirBem interessante. Taí mais um conhecimento pro meu acervo de cultura (in)útil. =)
ResponderExcluirEu preciso ver um vídeo disso. Na próxima, deixe uma câmera escondida gravando :)
ResponderExcluirQuando você citou pitch, roll and yaw eu já pensei em algumas manobras que os indianos poderiam promover. Tsc, cabeça de flightsimmer... =\
ResponderExcluir(barrel roll na India deve ser o equivalente a wow! no ocidente, methinks)
ila fox disse...
ResponderExcluirTem um país onde o menear a cabeça fazendo "sim" é "não" e o nosso "não" é "sim"... qual era mesmo?
15 de fevereiro de 2009 15:38
Bulgaria
Nossaaa que alivio que eu achei isso, estou trablhando com um indiano a pouco tempo, e quando eu converso com ele ele fica balançando a cebeça... não sei se é bom se é ruim, se eu calo a boca ou continuo.... kkkkkk Varias vezes fiquei pensando WF.. o que ele quer dizer.....
ResponderExcluirBom fico mais aliviada agora!!!! hahahaha