terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Não confie em guias


Todo mundo sabe que na Índia você não pode confiar em guias, principalmente se você estiver sozinho. Mas muitas vezes o guia é sua única alternativa, especialmente quando se trata de fotos. Como na grande maioria dos lugares você não pode levar tripé, se você quiser sair em alguma foto, vai ter que pedir pro guia tirar a foto pra você.

O problema é que os guias são muito, muito ruins de fotografia! Como exemplo, eu peguei duas fotos do Taj Mahal. Na primeira, o guia não entendeu muito bem a idéia de tópico da foto. Numa foto com o Taj, tipo, seria legal conseguir um ângulo onde o Taj aparecesse:


Mas tudo bem, lição aprendida, da próxima vez eu escolho o ângulo e aviso pro guia certinho: olha, é assim, nessa orientação, eu fico aqui no canto, enquadra desse jeito. E ele dá um jeito de errar, além de não centralizar a foto, ainda esquece de acionar o flash:



Estou certo que você vai perguntar: ah, mas a câmera é digital, por que você não tira outra foto quando perceber que a primeira saiu ruim? O problema é que lugares como o Taj são muito, muito concorridos, e pra conseguir um espacinho nos pontos bons pra tirar foto, você precisa enfrentar hordas de outros turistas, chegando até a ter filas. 

No máximo, você consegue uma janela de 30 segundos no point, tempo que você tem que aproveitar pra configurar a câmera, posar e tirar a foto. E se errar, vai ter um monte de gente atrás de você, não dá pra ter segunda chance, você precisa voltar lá pro final da fila.

Qual a solução então? Se você estiver sozinho, o melhor é ignorar o guia, e pedir pra outro turista tirar sua foto! Na hora de fazer a prospecção, procure os turistas que têm a maior câmera possível pendurada no pescoço: usualmente, se o cara gasta bastante grana com equipamento, é porque sabe o mínimo de fotografia.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Mais do pescoço

Povo ficou curioso pra ver como é essa rotação dos indianos, então procurei no youtube um exemplo e achei esse aqui. É bem isso do vídeo mesmo, imagine dar uma palestra e a platéia se mexendo assim:



Se você quiser aprender a fazer, então o melhor exemplo é acompanhar os pugs! Faça como eles, mas bem rápido:




Pescoço

"Diz aí Ricbit, o que você foi fazer na Índia"? Ah, eu fui dar aula. Tem um tópico que eu entendo e que os indianos até então não conheciam (agora eles conhecem).

Em geral, as pessoas dizem que eu sou um bom palestrante. Não é que eu tenha talento pra isso não, o que eu tenho é prática. Já são mais de 15 anos mestrando RPG; o sujeito acaba pegando a manha de se comunicar em público quando tem que ficar mestrando 4h seguidas todo fim de semana. Mas uma coisa que eu nunca tinha percebido é como sou dependente de comunicação não-verbal!

Eu não sabia, mas todo meu timing pra dar uma palestra é baseado na leitura da platéia. Se tem alguém acenando com a cabeça, eu verifico se ele está concordando ou discordando; se for negativo eu repito o ponto, ou dou um exemplo extra. Se ele tem cara de desinteressado, eu intercalo a apresentação com uma piada, e assim por diante. Isso tudo eu fazia de maneira inconsciente, só me dei conta das técnicas porque elas não funcionaram na Índia!

O problema é que a comunicação não-verbal deles é diferente. Nós, ocidentais, meneamos a cabeça de dois jeitos diferentes: o sinal para "não" é girando a cabeça no eixo do pescoço (o que em aviação é Yaw), e o sinal para "sim" é levando o queixo para o peito (Pitch). Os indianos têm um terceiro movimento, que é rotacionar a cabeça levando a orelha pro ombro (Roll). Dependendo de quão empolgado o indiano está, ele combina o Roll com as outras rotações, e o resultado é que parece que ele tem uma mola no pescoço, como se fosse aqueles cachorrinhos que você coloca no painel do carro.

Agora imagine o Ricbit dando uma palestra uma sala lotada de indianos, e todos eles mexendo a cabeça como se tivessem molas no pescoço. Eu não sabia se estavam entendendo, gostando, discordando, nhargh, eu estava completamente perdido!

Deu uma hora que eu desisti, interrompi a apresentação e perguntei pra eles: mas afinal, o que é esse raio de movimento? Claro que todos riram do ocidental bobo que não entende coisas básicas, mas no fim das contas era aquilo que a semiótica do Jakobson chama de função enfática da linguagem: o movimento serve pra testar o canal de comunicação; ou em outras palavras, "continua que eu tô ouvindo".

É impressionante como ficou muito mais fácil falar com eles depois que eu entendi o significado do gesto. Dica: se você estiver falando com um indiano e ele balançar a cabeça como uma mola, pode continuar falando, só significa que ele está prestando atenção.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Mundo Animal


Eu sempre procuro pedir dicas dos locais pros amigos antes de viajar para algum canto, e três pessoas me falaram de amigos que passaram um tempo na Índia e voltaram vegetarianos. Eu, que sou churrascariano, fiquei morrendo de medo: vai que tem algo na água da Índia que converte as pessoas! Mas como eu só tomava água mineral por lá, felizmente não fui afetado, e na verdade voltei mais convicto que nunca de como é bom um churrasquinho.

Por lá não tem nadinha de churrasco, tudo culpa das vacas, é claro. No sistema de castas da Índia, você começa nos dalits, que não tem casta, e vai subindo até os brâmanes, que são o topo. Acima deles tem a casta das vacas. Sim, o bom hindu, temente a Shiva, sonha em morrer e reencarnar numa vaca.

Eu tinha curiosidade de saber como era na vida real essa coisa das vacas sagradas. Pois bem, você nunca, nunca, vai ver algum lugar vendendo carne de vaca. Nem nas lanchonetes ocidentais, como o Subway ou o McDonalds. Por outro lado, leite de vaca é comum, e queijo também (no interior é comum ver vacas amarradas ou acorrentadas só pra tirar leite). Pelas ruas da cidade grande é relativamente comum ver vacas andando e tomando sol; e sim, os carros param caso a vaca esteja no caminho (mas eles buzinam pra fazer a vaca sair de lá). 

Eu não vi nenhuma vaca de carga, pra isso eles usam mulas ou camelos. Aliás, dos animais urbanos de grande porte, os comuns por lá são a vaca, o camelo e o elefante (lembrei do refrão da música dos mamonas agora). Dos pequenos, é comum ver cachorros na rua, mas eu não vi nenhum gato.

De qualquer modo, os animais selvagens são mais legais :)

Os macacos andam soltos pelos templos, pois são sagrados também (são a representação do deus Hanuman). Eles são bem maiores que os micos que a gente vê no Brasil, esse aqui devia ter a minha altura se andasse ereto.


Incrivelmente, no norte da Índia os periquitos são bem comuns!


Outro bicho comum em templos é o kudu. No cantinho também tem uma garça, mas ela é menor que a espécie comum no Brasil.

Atrás das folhas tem um corvo indiano. Ele parece com o corvo normal, mas tem o pescoço branco.


Esse aqui é um pavão selvagem, não deu pra tirar foto de perto porque eu tirei de dentro do táxi enquanto voltava de Agra.

Os esquilos da Índia são menores que os da Califórnia, e listradinhos.

Lá no alto voa a águia indiana, que é bem grandona, mas que eu não consegui ver de perto, porque raramente pousa (pelo menos perto de turistas).

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Frogger, fase 2

Pra quem achou o vídeo anterior light, eis a Old Madras Road à noite. Toda a emoção do video anterior, sem iluminação nenhuma na rua e mais trânsito. Pra piorar, como eu gosto de me vestir de preto, eu era praticamente invisível pra eles. Na próxima vez vou levar uma lanterna e uma buzina pra atravessar a rua!

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Frogger

Hoje eu filmei um minuto da Old Madras Road, a tal rua que eu preciso atravessar todo dia. Note que não tem faixa, nem pros carros e nem pros pedestres, e também não tem farol.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Roubada MASTER

Ontem eu estava falando com um chapa meu aqui, o Abhanshu, que tinha perguntado quem foi comigo pra Delhi e Agra. Eu falei que tinha ido sozinho, e ele falou "WOW você é corajoso, eu não iria sozinho, e olha que eu sou indiano!" Viajar sozinho maximiza a chance de roubadas, mas a roubada MASTER foi quando eu estava em Fatehpur Sikri, as ruínas de um antigo forte da era Mughal.

Contexto: guias de templo são igual praga. Quando eu cheguei em Fatehpur Sikri, não deu tempo nem de abrir a porta do táxi, já tinham quatro guias em volta oferencendo serviços. Eu não gosto de guias, porque eles não vão falar nada que não tenha na wikipedia, e nem pra tirar fotos suas eles prestam, porque fazem enquadramentos horríveis e não entendem nada de iluminação. Daí, eu deixei bem claro pra todos os guias que não ia pagar ninguém, no money.

Mas teve um lá que falou que podia me mostrar sem cobrar nenhum dinheiro. A manha desse tipo de guia é que eles ganham dinheiro por comissão. Eles te levam pro passeio no templo, mostram todas as coisas, e na saida te encaminham pra uma lojinha de lembranças. Quando o dono da lojinha vê que você entrou acompanhado de guia, automaticamente aumenta os preços em 50% e dá esse extra pro guia que levou o trouxa lá dentro (conseqüência: sempre que for entrar em uma loja, entre sozinho). Se você não comprar nada na lojinha, o guia fica no prejú, e você sai no lucro.

Pois bem, eu já conhecia essa manha então topei o tal guia de graça. Ele era competente, mostrou os detalhes das tumbas, contou as histórias do local, falou da vida nas cidades em volta. Em um dado momento, ele perguntou "o senhor está gostando do meu trabalho?" e eu pensei "puts lá vem, agora o cara vai pedir dinheiro". Mas o diálogo foi assim:

Guia: "Você está gostando do meu trabalho, senhor? Se está, então por favor me coma."

Ricbit: "Hein?"

Guia: "Você é forte, tem sapatos grandes, eu gosto, me come."

Ricbit: "WTF?!?!"

Guia: "Hoje de manhã eu dei pra um turista alemão, ele gostou bastante, você vai gostar também."

Ricbit: "SAI PRA LÁ!!!!"

Eu botei o cara pra correr e terminei o resto da visita sem guia mesmo! Logo, a dica é evitar os guias gratuitos, porque o mais barato nem sempre compensa :)

Riquixá

Continuo com medo de atravessar a rua. Hoje mesmo eu olhei com cuidado pra ver se vinha carro, e me dei mal porque olhei pro lado errado: como a mão é inglesa, você precisa olhar pra direita ao invés de olhar pra esquerda. Felizmente levei uma buzinada de um riquixá e agora estou mais esperto :)

Embora riquixás estejam por toda parte, eu evito pegá-los porque em geral eles não falam inglês. Mas teve uma vez que não teve jeito, e como sempre envolve uma das roubadas que eu me meti.

Meu avião de Delhi pra Bangalore saía às 6 da manhã. Meu hotel não ficava em Delhi, ficava em Gurgaon, uma cidade satélite de Delhi, que é uma espécie de Diadema indiana. Como era meio longe, e as coisas tendem a dar errado comigo, eu marquei com o táxi de me pegar no hotel às 3 da manhã, assim eu teria bastante tempo sobrando em caso de problemas.

Mas o trajeto foi tranqüilo, cheguei lá super cedo, então abri o note e fiquei jogando Aleste 2 até dar o tempo de embarcar. Quando deu umas 5am, uma senhora de Israel veio me pedir ajuda pra preencher o guia de saída da Índia. Eu ajudei e a gente começou a bater um papo, ela me perguntou pra qual país eu estava voltando, falei que não estava voltando ainda, ia só retornar pra Bangalore. Aí ela arregalou o olho e falou: "Mas você sabe que aqui é o aeroporto internacional né? Vôos domésticos são no outro aeroporto, a 8km daqui". Eu só abri a boca e falei FFFFFFUUUUU---

Como faltava só uma hora pro vôo sair, e você precisa embarcar meia hora antes, então eu tinha um tempo apertadíssimo pra ir para um lugar que eu nem sabia onde era. Acabei chamando o primeiro riquixá que apareceu, e falei pra ele sair correndo em direção ao outro aeroporto.

Um pouco de contexto: o clima em Bangalore no inverno é igual a Belo Horizonte no verão, então no problem. Em Delhi, a média é a mesma que BH, mas a variância é muito maior. Faz friozão de manhã e calorzão à tarde. E riquixás são abertos dos lados, não tem porta nem nada. Como conseqüência, eu fui *congelando* de um aeroporto ao outro.

Mais contexto: riquixás podem ser cobrados com taxímetro ou com preço combinado. Eu combinei com o motorista que a viagem ia ser 150 rupees. Até aí tudo bem, mas eis que no meio do caminho, o sujeito, do nada, resolve parar o riquixá, vai até um muro e começa a dar um mijão ali no muro mesmo. WTF? Eu falei pra ele que estava com pressa, e ele "ah, com pressa é mais caro, 200 rupees". E sempre tinha uma ou outra distração pelo caminho, no fim das contas a viagem acabou saindo por 300 rupees. Pra piorar a situação de vez, eu só tinha notas de 500, então ainda tive que pegar o troco de um cara que mijou na parede sem lavar a mão (yuck).

No final, depois de passar pela segurança e tudo o mais, acabei entrando no avião poucos minutos antes de acabar o embarque. Mas a canseira foi tanta que eu encostei na cadeira do avião, e quando vi, a aeromoça estava me cutucando pra desembacar. Nem vi o avião decolando :)

Dinheiro

Nos USA e no Brasil você pode passar semanas sem ter nada de dinheiro no bolso. Praticamente todos os locais aceitam cartão de crédito. Isso não é verdade na Índia, onde quase nenhum lugar aceita cartões, e você precisa andar com monte de rupees no bolso se quiser comprar alguma coisa. (Sim, a moeda da Índia é o rupee, a mesma usada no jogo Legend of Zelda).

Daí, a primeira coisa que você precisa fazer quando chega na Índia, é ir até uma ATM e sacar a maior quantidade de rupees possível. O ideal é sacar um montão de uma vez só, porque as máquinas cobram taxas bem altas por saque, então fazendo um único saque você minimiza essas taxas.

Pois bem, eu fiz isso, e fiquei com rupees pra viagem toda. Depois, no dia seguinte, eu fui agendar a minha viagem pra Delhi e Agra, e lá era um desses raros locais que aceitavam cartão. Eu paguei no cartão, é claro, mas aí veio a roubada: meu cartão não foi aceito. Mas como assim não foi aceito, se no dia anterior eu saquei dinheiro normalmente no ATM?

Resolvi ligar no banco pra esclarecer isso, e o pessoal de lá explicou o que aconteceu. No dia anterior, um hacker indiano roubou o número do meu cartão e fez um saque de dinheiro de uma ATM na Índia (sigh). Eu pacientemente expliquei que não tinha hacker nenhum, fui eu mesmo que fiz o saque, porque estou em viagem na Índia, e depois de convencê-los que existem pessoas que viajam pra Índia, eles liberaram o cartão novamente.

Lição da história: se você é cliente do Banco Real e vai viajar pra Índia, ligue antes pro seu gerente avisando da viagem, senão você só vai conseguir usar o cartão uma única vez.

Sapatos

O meu artigo preferido do Pierluigi Piazzi na revista MSX Micro é o clássico "Não atravesse a rua descalço". Era um artigo sobre falácias lógicas, e contava a história de um grupo de pesquisadores indianos que concluíam que atravessar a rua descalço aumenta a chance de atropelamentos, após analisar todos os casos de atropelamento na Índia. É claro que eu resolvi conferir na prática, mas pelo menos hoje em dia não é bem assim não. Todo mundo em Bangalore usa sapatos, é raro ver as pessoas descalças por aqui.

Por outro lado, na grande maioria dos templos você precisa tirar os sapatos pra entrar. Meias são ok, e também é ok se você colocar a meia por cima do sapato (sempre tem um vendedor de rua que vende meiões descartáveis próprios pra isso).

O local que eu mais sofri com isso foi na mesquita de Jama Masjid em Delhi, que é a maior mesquita da Ásia, e foi construída pelo mesmo sujeito que fez o Taj Mahal. Antes de entrar você precisa tirar os sapatos e deixá-los com um tiozinho na porta. O detalhe é que atravessando a rua tem um vendedor especializado em vender tênis ocidentais que os turistas, ahn, "esquecem" no templo. Pra garantir que seu tênis não vai sumir, você precisa molhar a mão do tiozinho.

O templo em si é bem legal, com visual impressionante, mas com um detalhe. No meio do pátio tem uma piscina onde os muçulmanos lavam os pés antes das orações, e eu realmente não sei por que eles fazem isso, já que o caminho da piscina até o templo é lotado de cocô de pombo! Não tem como andar naquele pátio sem pisar na meleca!

Na fim das contas eu resolvi jogar fora a meia que usei no fim de semana, nem lavando com muito cuidado a nhaca toda ia sair :)

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Línguas

Fato: aqui na Índia cada cidade tem uma língua diferente, isso quando não tem mais de uma. Em Bangalore o idioma que eles falam é o Kannada, em Delhi eles falam Hindi, Punjabi e Urdu, e assim por diante. Como é inviável ficar criando livros escolares em cada uma dessas línguas, os livros escolares aqui são todos em inglês, que serve de língua franca pelo país todo. Hm, quer dizer, isso na teoria.

Basta lembrar que no Brasil as escolas também tem aula de inglês, e nem por isso todo brasileiro fala inglês, e ainda estamos assumindo que todas as pessoas vão para a escola. Na prática, o que eu descobri é que não dá pra assumir que as pessoas falam inglês aqui. E eu descobri isso passando por uma roubada, como usual :)

Eu sabia que o meu hotel ficava bem perto do prédio do Google, e que dava pra ir lá à pé. Sabia também que o Google era um prédio grandão em uma avenida movimentada, enão supus que isso era informação suficiente pra chegar lá, e qualquer coisa era só pedir orientação pros nativos. Mas na prática, ninguém falava inglês! Aí, pra chegar no prédio foi com uma combinação de gestos e procurar o prédio grande lá no horizonte.

O guia rápido de detecção de inglês é: todos os funcionários de Google falam inglês, mesmo os não-engenheiros, mas cuidado porque o sotaque é forte e às vezes não dá pra entender. Taxistas entendem o que você fala, mas não espere entender o que eles falam. Motoristas de riquixá (rickshaw) não falam inglês, exceto os que trabalham no aeroporto. Atendentes de lojas em geral falam inglês, mas quando não falam, eles entendem "how much?" e sabem falar o preço das coisas. Pessoas aleatórias na rua não falam nada de inglês. Guias turísticos falam inglês excepcionalmente bem, e muitas vezes outras línguas também (como espanhol, russo ou chinês).

Banheiro

Felizmente eu ainda não passei pela situação da tirinha :)

Nos dois hotéis em que estive, e também no Google, as privadas são ocidentais e sempre têm papel higiênico. Mas não sei se é padrão, vai ver eu só dei sorte até agora. Por via das dúvidas eu sempre tenho um rolo de papel na mochila.

Mas a coisa bizarra aqui não é a privada, é o chuveiro! Ele também é elétrico como é comum no Brasil, mas o aquecimento é feito de maneira externa. Ao invés do próprio chuveiro aquecer a água, o chuveiro em si é só um cano que liga num aquecedor externo que eles chamam de geyser. Nos dois hotéis tem a plaquinha "for hot water please turn on the geyser".

A parte chata desse sistema é que a capacidade do geyser é pequena, então você precisa deixar ligado por um tempo antes de entrar no banho; e como a quantidade de água quente é limitada, se você tiver cabelo comprido provavelmente a água quente acaba antes que você acabe de lavar o cabelo.

Outro ponto bizarro é que não tem ralo sob o chuveiro. Ao invés disso, o banheiro é construído em declive, de maneira que a água que cai do chuveiro corre por todo o banheiro até entrar num ralo lááá do outro lado. 

Comida


Clique na imagem pra ver maior

Antes de vir pra cá eu estava todo dia abusando da pimenta pra já ficar acostumado, mas foi exagero. Não é que toda comida aqui na Índia seja apimentada, o que acontece é que toda comida tem gosto forte, mas nem sempre é pimenta. Eles têm um monte de outros temperos que são fortes sem serem pimentas.

Todo escritório do Google tem um refeitório e aqui não é diferente. As comidas sempre tem um indicativo com o nome em indiano, o que não me ajuda muito, mas eu já saquei que todo dia tem pelo menos um prato a base de batatas, então é só procurar coisas amareladas boiando no molho. Sempre tem arroz também, e o arroz deles é igual ao nosso.

O Google tem um manual para funcionários em viagem com um monte de dicas, e uma delas é: "você vai ter diarréia, não dá pra evitar, acostume-se com a idéia". A idéia não é aqui tenha mais bactérias que no Brasil, é que as bactérias daqui são diferentes, e os nativos tem uma imunidade que você não tem. Eu consegui escapar da diarréia até agora, mas estou tomando bastante cuidado: não como nada na rua, e só bebo água mineral. Aliás, o cuidado é tanto que estou até escovando os dentes com água mineral (não é exagero, o manual recomendava isso mesmo).

No térreo do prédio do Google tem algumas lanchonetes, incluindo Subway e McDonalds. Como as vacas são sagradas, não tem Big Mac aqui, ao invés disso o número 1 é o McVeggie (tirei uma foto disso, está no álbum de Bangalore). O default por aqui é ser vegetariano, as pessoas que não são eles chamam de non-veg ("você tem pratos non-veg nesse restaurante?"). Os pratos non-veg usualmente são de galinha e cordeiro. Pela cidade também dá pra achar Pizza Hut e Domino's Pizza.

Aqui não tem coca zero, só diet coke. Não tem toddynho, mas tem caixinhas com "spicy milk". O chocolate comum aqui é o Cadbury, eu não comia dessa marca desde que fui pra Inglaterra em 99. Os sucos comuns são da marca Tropicana, a mesma que você acha fácil nos usa. Água de coco em latinhas é bem comum também.

Trânsito

Eu não tinha noção de como trânsito pode ser caótico antes de vir pra cá!

Antes de mais nada, o principal veículo que circula na índia é a buzina. Às vezes existem carros em volta da buzina, às vezes motos, mas a buzina é certamente a parte mais importante. De fato, a maioria dos ônibus e caminhões possuem escrito na parte de trás "Horn Please" ou "Blow Horn", eles assumem que se você quer passagem, tem que buzinar entusiasticamente antes.

Os carros aqui são todos amassados, praticamente sem exceções; e outra coisa curiosa é que motos são muito mais comuns que ocidente (quase 1:1 com os carros). A mão aqui é inglesa, você anda pela esquerda ao invés de andar pela direita.

As ruas não tem faixas, eu não sei qual mágica eles usam pra conseguir trafegar. Também não há faixa de pedestres, então pra atravessar qualquer rua você se sente como o Frogger. Sério, eu tenho medo de atravessar as ruas aqui. Do hotel pro google eu tenho que atravessar uma avenida grande (Old Madras Road), e eu levo uns dez minutos pra conseguir ir de um lado ao outro, esperando uma brechinha pra conseguir atravessar.

Outra coisa curiosa é que só as grandes avenidas são asfaltadas, todo o resto são ruas de terra apenas. Dia de chuva aqui deve ser o terror, mas felizmente eu estou numa época seca. As calçadas são de terra também, então simplesmente não tem jeito de chegar com o tênis limpo no trabalho.

Energia elétrica

A infraestrutura aqui em Bangalore é terrível hehe. O Google fica num complexo comercial bem grande, no estilo do shopping eldorado em SP, onde tem lojinhas no térreo e prédios comerciais logo acima. Além do Google, tem um monte de outras empresas, como a Ernst-Young. E, apesar disso, é super comum a luz acabar!

Em geral a luz no prédio acaba umas três vezes por dia, com duração de 10 a 30 segundos (uma piscada estendida). O povo acha isso normal, de fato, ninguém liga pra isso. No google as máquinas tem no-break, então quando a luz acaba o povo simplesmente ignora e continua trabalhando no escuro como se fosse a coisa mais normal do mundo.

Ontem a luz acabou pra mim no hotel, à noite. O meu note nem se importou, mas eu fiquei sem internet por uns 10 minutos até a luz voltar novamente.

Em tempo, as tomadas são triangulares e 220V. Eu pluguei o carregador do Nintendo DS na parede sem saber, e saiu uma faísca estranha (o carregador do DS cinza é bivolt, mas o do Lite não é, descobri agora). Obviamente o DS não ligou mais, mas eu ainda não sei se queimou o carregador ou não (não é possível que não tenha proteção contra sobretensão, quando voltar pro Brasil eu pego meu multímetro e checo).

Broadcast

Pra quem não sabe, eu estou fazendo uma visita de duas semanas no escritório do Google em Bangalore, e também aproveitei pra passear um sábado em Delhi e um domingo em Agra.

Como está todo mundo curioso pra saber como são as coisas aqui na índia, resolvi fazer um mini-blog com as curiosidades, só pra não ter que copiar o mesmo texto em zilhões de emails e mailing lists :)

As fotos da viagem estão lá no picasa, em três albums so far:

Bangalore
Delhi
Agra